Morreu!

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E morreu ontem Heath Ledger. Ele era um ator legal “muito profundo” como dizem os críticos e a mini biografia no IMDB. Eu gostei de quase todos os filmes que ele fez, nunca vi o filme dos cowboys gays em que ele atuou mais por não fazer nenhum sentido ver esse filme do que por preconceito. Lembro dele em “A Knight’s Tale” (“Coração de Cavaleiro”, em português), vou usar o batido clichê de seção da tarde para me referir a esse filme, mas gostei dele, tudo bem, houveram filmes fracos e ótimos no currículo dele. O que me chamou a atenção, foi que ontem mesmo eu estava triste ou deprimido, sei lá, ainda estou, mas ontem mesmo, nesse mesmo dia o cara morreu. Tem muito lixo publicado na rede sobre a causa da morte, difícil saber ao certo ainda, mas em um dos lugares que li está publicado que encontraram pílulas junto ao corpo. Fiquei meio chocado, cara novo, grana, boa aparência, mas quem além de nós mesmos sabe o que sofremos?

Do ponto de vista mesquinho, me senti aliviado pelo fato de terem terminado as filmagens para “The Dark Knight” (O Cavaleiro das Trevas), onde Heath interpreta ninguém menos do que Joker (Coringa). Nada me fascina mais no mundo que o Coringa, o Coringa como eu adotei, saído da Graphic Novel “The Killing Joke” e já comentada aqui. Um ser humano tomado por absoluta loucura como meio de esquecer a tragédia de sua vida miserável, um ser humano que “virou o fio” e se tornou amargo, sarcástico, violento e absolutamente louco.

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É claro que eu duvido que exista relação entre a morte do ator e o que ele deve ter passado para entender o que é interpretar o Coringa, isso que eu estou escrevendo é um devaneio. Mas que é barra pesada entrar na pele do Coringa, isso é. Além do mais ele andou reclamando que as filmagens exigiram por demais de sua capacidade física e mental, e então estava tomando um remédio para dormir.

De qualquer sorte, fica o registro e o lamento pela perda desse bom ator.

E não é que passei mesmo?

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É imaginopessoas, eu não estava muito interessado em encarar novamente o ambiente da faculdade. Estava um pouco reticente quanto a isso, mas quando me dei por conta havia feito inscrição para o vestibular. Pensei “quando encarei de verdade o vestibular, passei”. Queria ver como andava o nível de seleção treze anos após eu passar na engenharia. Sabia que seria importante voltar a estudar, mas não estava muito interessado, pensava “deixo para depois isso”. Chegou o dia da prova. Não estava nem um pouco ansioso, mas cheguei quase uma hora antes do início, detesto me atrasar para o que quer que seja, não que eu não me atrase, mas detesto quando isso acontece. Comecei a pensar do nada, respirando o ambiente do campus, que poderia ser uma boa idéia, relaxar um pouco…estudando! Colegas-mala, professores-mala, um universo-mala, mas seria bom me distrair um pouco, e afinal diploma nunca atrapalha. Chequei a minha sala e esperei ela abrir, me identifiquei e sentei em algum lugar. Coloquei meus documentos e afins em cima da mesa, deu um pouco de sono, mas logo passou. Lembrei de olhar ao redor e sacar os tipos que iam fazer a prova também. Normais, a maioria imensa de garotos e garotas com a metade da minha idade ou um pouco mais, nada especial. Toca o sinal e o monitor começa a dar instruções com um certo ar de superioridade. Percebo nervosismo na menina que está ao meu lado esquerdo, bom cada um com seus problemas. Recebo a prova, cartão de respostas e folha da redação. Não acreditei no que eu vi, questões bem simples, fiz em menos de uma hora todas, mais meia hora para rascunho e redação final, e até mais. Não contei para praticamente ninguém dessa epopéia. Meu chefe sabia pois ele andava insistindo com isso, e achei que por consideração deveria contar. Afora ele, mais ninguém sabia. Saí da sala com um ar de “merda, preciso achar a documentação para a matrícula”, pois imaginei que tinha passado e aí minha falta de vontade pela faculdade sumiu. Dias depois vi realmente meu nome nos aprovados, fiquei contente por alguns minutos e depois voltei a normalidade, afinal o que muda no mundo com esse fato? Nada muda. Um dia depois eu já havia ido em todos os lugares que precisava e estava com os documentos necessários. Na data marcada fiz a matrícula, um veterano na sala de informática inseria meus dados no sistema com uma má vontade latente. Ele me tirou um pouco a paciência, mas eu soube disfarçar bem até, não xinguei ele de nada. Lá pelas tantas eu estava vendo um papel na pasta e o meu crachá caiu, ele olhou, me pediu desculpas e trocou o tom da conversa durante o resto do processo, que boboca… No final do mês que vem começam as aulas do curso de Administração de Empresas, nunca na minha vida cogitei que esse momento ia existir, na minha família temos o hábito das telecomunicações faz três gerações, eu sou a terceira e por hora, a última. Não imagino grandes dificuldades, mas me soa estranho entrar nesse campo de conhecimento tão diferente do que eu lido desde criança, mas vá lá, vou encarar, mal não deve fazer.

Minha esposa vai para o período de férias com as crianças, num lugar que eu considero paradisíaco. Eu não vou, tenho projetos para finalizar e ninguém aqui no setor dá mostra de que eu posso delegar com a consciência tranqüila Não agüento mais isso, perco momentos importantes da vida dos pequenos e queria muito estar com eles. Saco isso, saco mesmo. Tenho uns consertos pra fazer em casa também isso não ajuda. Deveria ser menos sovina e pagar alguém, mas não, eu mesmo tenho que fazer.

Mas o intrigante é que percebo uma tristeza crescente em mim. Nada parece amenizar ela, as coisas estão sob controle, a minha esposa gosta de mim, meus filhos gostam de mim, deveria me bastar isso, deveria estar contente, tenho os ingredientes necessários para o bolo da felicidade, mas estou triste.

Fui em um amigo semana passada, ver como ele andava, dar as boas novas, mas em cerca de pouco mais de uma hora senti que certas coisas não vão mesmo adiante. Amizades de uma vida inteira se transformam em diferenças intransponíveis, em função de assuntos e pontos de vista que definitivamente não merecem discussão. Não acredito em política ou em políticos, detesto isso, mas vejo pessoas dispostas a tornarem difíceis relacionamentos por pura bobagem. Já fui de esquerda, hoje detesto tudo, direita, esquerda, centro, norte, sul… Vejo que no caminho da velhice a direita cooptou meu amigo. Não vou julgá-lo, não vou julgar ninguém, nem tampouco quero ser julgado. Mas me dou o direito de não gostar de política. Imagino a série de barbaridades que são cometidas com o dinheiro que me obrigam a pagar por tudo, seja quem for o sem-vergonha que estiver no trono.