A lancheira do Scooby-Doo

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Hoje pela manhã fui brindado de maneira medieval pela Equipe de Tecnologia da Informação com a necessidade de minha presença em uma reunião. Eu não vou culpar esse pessoal, afinal de contas não é todo mundo que sabe que existe e-mail e agenda, isso são coisas muito modernas. Reunião comum, sistema de controle de acesso novo, projeto recente, o antigo gerente da área escreveu à quatro mãos comigo isso, faz só uns dois anos. A velocidade do projeto foi fabulosa, por pouco não esqueci que fui eu quem escreveu parte disso. O setor de tecnologia da Informação pegou mais uns incautos para a reunião com o fornecedor do novo sistema e então começou a lenga-lenga. Como eu já sabia o que precisava, fiquei fazendo de conta que estava interessado. Uma hora eu segurei o queixo com as duas mãos e os dedos ficaram perto do meu nariz. Os odores gerais da sala e das pessoas mais o cheiro das minhas mãos que tinham resíduos do meu perfume se misturaram e eu comecei a viajar, comecei a me lembrar do cheiro da minha lancheira dda época do primário. A minha mãe naquele tempo havia me comprado ou eu havia ganho, uma lancheira do Scooby-Doo, tinha um buraco na tampa que encaixava a garrafinha. Todo dia eu levava pão e manteiga na lancheira e um Nescau quentinho na garrafa, com bastante açúcar que eu gosto é de coisas doces. Podia nevar ou fazer um calor do Saara e o Nescau eu levava quentinho, puta merda! Esse cheiro geral de um monte de porcaria junto na sala mais as minhas mãos me lembraram o cheiro do plástico da lancheira. Que barato, eu tinha aula de tarde e aí num determinado horário a gente parava de fazer as coisas simplesmente para descansar, eles chamavam isso de recreio. Aqui não tem lancheira, nem recreio nem descanso, mas de vez em quando em uma reunião tem o cheirinho da minha lancheira.

Que foi que deu errado?

Estúdio

Eu ando vagabundo. Muito. Mas com minhas coisas pessoais. Ganhei reconhecimento da empresa como profissional excelente, um aumento de salário brutal, que posso considerar como a maior soma de dinheiro que eu já vi na vida e margem para crescer muito. Eu já era doido pois achava pressão demais e agora parece que submergi de vez na vida profissional. De positivo, vou a Houston em um futuro próximo (Positivo? Está frio pra caramba lá!), tenho projetos imensos no ano que vem…. Antes disso o clima lá em casa já havia ficado muito bom, e de uma hora para outra, minha esposa parece que desceu para o mundo das pessoas normais, que são todos os outros habitantes do planeta, e está ficando muito bom conviver com ela.Mesmo eu sempre deixando claro aqui no blog que não curto dividir minha vida ou qualquer sentimento com meus colegas mas mesmo assim ganhei 23 certificados deles, no programa anual de reconhecimento, como exemplo de dedicação com a empresa, mas não seria com a família essa dedicação e a empresa um meio de conseguir isso?Tirando que a minha carga de trabalho vai aumentar, vou encarar outra faculdade, outra realidade e vou para o mundo da administração de empresas, que é o que estão esperando de mim. Isso vai tirar muito dos meus planos para o ano de 2008, eu ia comprar uma casa, desistindo do universo dos síndicos e zeladores, para encarar o projeto pessoal mais importante que já tive: Montar um estúdio pessoal, e ao contrário da minha esposa, realizar o que tenho dentro da minha cabeça desde criança: Ter um lugar dentro do meu pátio, onde eu pudesse entrar, tocar, gravar, produzir, ouvir música… e que teria outras funções, seria onde eu pudesse me isolar se não para sempre, pelo menos por algumas horas e ler meus livros, montar meus aviões e F1, ver filmes classe z de faroeste, ou simplesmente ensinar os meus filhos as artes que conheço, no nosso espaço. Parece que fui subornado pelo poder financeiro, ou pelo medo de perder o emprego por não querer evoluir, medo de perder o trem…Seja como for, preciso providenciar o melhor futuro possível para eles, os tesouros. Tudo que eu aprendi em gerenciamento de tempo, dentro de gerenciamento de projetos vou acabar tendo que usar, pois trabalho faculdade e atenção que a família precisa vão consumir todo o tempo que eu tenho, mas preciso e vou encarar, fazendo um balanço anual do estrago e dos benefícios. Bem vamos ao que eu fiz de bom a mim mesmo esse ano: Comprei um amplificador novo, bem simplezinho, mas bom, desisti dos meus racks de efeitos e… comprei mini racks, refiz meu set com um monte de pedais e estou finalizando o processo de timbrar eles. Tirei uns parcos dias de folga.Convenci meu pai a ficar perto da família, mesmo que isso esteja me custando muita preocupação. Ensinei minha filha a usar o computador e como conseqüência ela aprendeu a ler sozinha com cinco anos. Meu filho se aproximou muito de mim, e agora com dois anos posso dizer que me sinto feliz com o grau de dependência que ele tem de mim, do tipo fazer questão que eu dê banho nele, e comida, quando estou em casa. Eu descobri que aumentei meu grau de dependência deles também, como se fosse possível. Ah e perdi 16 quilos.De ruim só quase morri de ataque cardíaco, 4 dias numa UTI, um susto danado e a necessidade de perder mais 21 quilos.Então aparentemente o que me falta? Esse blog idiota sabe o que falta, falta o que não divido com ningém além do Pepe (e ele não sabe tudo), que escondo atrás de uma falsa extroversão, falta o que sempre faltou, dizer três palavras para uma criatura, faz quase vinte anos isso. Vou construir uma vida inteira do que não devo, do que não posso. Minha consciência diz, com do dedo em riste: “Seja homem, assuma o que tem e foda-se!” Minha cabeça repete a muitos anos o que li nuns quadrinhos da Marvel, sobre o início da saga do Hal Jordan como lanterna verde, quando o anel foi passado a ele pelo antecessor antes de morrer em função de um ataque da Legião: “Seja sóbrio, seja vigilante” Bom, seja lá o que eu entendi nessa história, isso envolve não me meter em confusões e manter honrosamente minha família. Isso tudo porque tudo que eu sinto por aquela criaturinha de cabelos pretos e expressão constantemente enigmática agora é dividido em igual intensidade por outras duas, de outra maneira, é claro, mas de igual intensidade. E não vou ser mais específico a respeito por que se ela ler isso eu vou sempre me fazer de doido, e já comentei aqui, e vou dizer que ela é que é maluca.Posso dizer que 2007 foi um ano com altos e baixos, mas no geral não devia me queixar, tirando a escolha errada lá há quase 20 anos atrás, o resto está muito bom. Vou tentar ser mais freqüente aqui, velha promessa…